Veterano na cena independente brasileira, o fundador do selo Baratos Afins Luis Calanca organiza mensalmente o evento Rock na Vitrine, na Galeria Olido em São Paulo. Na edição de dezembro subiram ao palco Ciro Pessoa (ex-Titãs e Cabine C), Gerson Conrad (ex-Secos & Molhados) e a banda Star 61 para um set de aproximadamente 45 minutos cada.
Acompanhado da banda Nu Subindo a Escada, Ciro Pessoa promoveu o álbum “Em Dia com a Rebeldia” (2010), uma homenagem conceitual à proposta surrealista convertida ao formato de rock psicodélico contemporâneo. O ex-Titãs conta com músicos do Forgotten Boys em sua banda de apoio: Flavio Cavichioli (bateria), Zé Mazzei (baixo) e Gustavo Riviera (guitarra), além da ex-Rouge Luciana Andrade (voz) e Paulo Kishimoto (teclados). No repertório destacam-se temas como "As Formigas estão Vendo Tudo", “Minha mulher ampulheta”, “Gruta Solar” e a faixa que dá nome ao disco.
Acompanhado da banda Trupi (Leandro Delpech na guitarra, Carlinhos Machado na bateria e Gerson Tatini no baixo), o ex-Secos & Molhados Gerson Conrad entrou em cena na seqüência e apresentou temas variados de sua longeva trajetória em uma versão compacta de seu show “Bons Tempos”.
No roteiro destacam-se naturalmente clássicos como “Sangue Latino”, “Delírio”, “El Rey” e “Rosa de Hiroshima” (poema de Vinicius de Moraes originalmente musicado por ele), mas o interessante é atentar que seu trabalho não se estagnou nas glórias passadas como atestam temas como “Leva”, “Teias” e “Feito Veneno”.
Enfim, o show é prato cheio para quem deseja se aprofundar na música popular brasileira “maldita”. E, ao contrário do que apregoou a boca nervosa de seu ex-companheiro de Secos & Molhados João Ricardo, que tachou Conrad pejorativamente como “compositor de uma música só”, Gerson prefere, em vez de alimentar polêmicas estéreis, rebater comentários desta sorte com reflexões acerca da vida longe dos holofotes como atesta “Direto Recado”, destaque de seu repertório mais recente.
A banda Star 61 fechou esta edição do Rock na Vitrine com um glam rock digno da Boca do Lixo. Pois ao contrário da tendência rock de brechó tão comum ao afetado underground das grandes cidades brasileiras pós-Velvet Goldmine e a descoberta da obra de David Bowie por uma nova geração de meninos e meninas, o atual rock purpurinado autenticamente brasileiro não poderia encontrar melhor tradução.
Trata-se de glam rock de submundo. É fuleiro no melhor sentido, tal como as tendências originais do estilo na Nova York protopunk setentista e se posta há anos luz da produção exagerada de garotos roqueiros abastados que acham que bastam plumas, paetês e um pouco de purpurina para virar a bisneta que Brian Molko deu para Bowie. Ao contrário, é música purpurinada de quem sai do palco e vai “ganhar a vida” como michê em troca de alguns trocados e um pouco de diversão no wild side da cidade onde os playboys sequer passam perto, ainda que a leitura da bíblia punk “Please Kill Me” os levem a pensar equivocadamente que seu cotidiano é punk até o caroço.
Embora desfalcado de seu guitarrista e da produção que maquia demasiadamente a essência bagaceira natural de sua proposta sonora em estúdio, o Star 61 se apresentou em formato power trio. Capitaneado pelo vocalista Flaviano André, o grupo de formação mutante tocou temas como “Fácil Demais”, “Tanto Faz”, “Tão Sexy” e um divertido libelo gay chamado “SuperTravesti”, entre outros. Brincando, o vocalista chegou a dizer que seu novo baixista foi contratado poucos minutos antes da apresentação e aprendeu as músicas em cima da hora, “logo depois de pagar pelos momentos de prazer”...
Enfim, é o tipo de trilha sonora perfeita para “torturar” molecada que bate nos outros apenas por causa de uma orientação sexual distinta da sua. Em se tratando de música, o Star 61 coloca o glam rock à moda brasuca em seu legítimo lugar: no underground.
Veja abaixo fotos e vídeos do evento:
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